Vânia estava indignada com o que acabara de presenciar na sala de parto. Em vez de receber o bebê das mãos do obstetra, o viu ser entregue para a mãe logo após o nascimento. Como médica tradicional que era (e ariana que é), achou aquilo “uma falta de respeito”.
Foi contar a história para a amiga Renata Garcia, também médica, que respondeu com uma bronca: “O bebê é da mãe, não seu”.
Essa bela e nada romântica resposta foi um dos primeiros sinais que Vânia recebeu sobre o que era a humanização na medicina. “Depois disso comecei a ser muito aberta a ouvir o novo e mudar minha prática. Fazia todo sentido a criança estar com a mãe naquele momento. Aprendi que sou uma coadjuvante no parto e levei isso para toda a minha carreira”.
Nascida e criada em Belém, ela cursou medicina na Universidade Estadual do Pará e só se mudou para São Paulo para cursar sua residência na Santa Casa de Misericórdia. Decidiu fazer Pediatria e Neonatologia nos dois anos de duração do curso e estagiou na UTI do hospital, onde cuidou de crianças em situação de risco, quase todas, consequentemente, nascidas por meio de cesarianas.
Com curiosidade sobre os partos normais que mal via, Vânia passou a trabalhar também na rede pública. Lá percebeu que a imensa maioria das crianças podia nascer sem a necessidade de uma cirurgia. Passou então a acompanhar mais partos e se apaixonou por aquilo. Tanto que decidiu deixar a UTI e o hospital para se dedicar a um consultório.
A medida que ia realizando mais atendimentos, ela percebeu que, por consequência da sua formação e atuação em UTI, estava mais apegada aos protocolos do que necessariamente aos pacientes. Entendeu então que para atuar no consultório, teria que mudar isso. “Eu seguia a medicina protocolar, era mais apegada às doenças e curas. Eu não tinha preparo para lidar com a emoção. Quando alguém chorava, eu desconversava, dava uma resposta evasiva para evitar aquele momento”.
Essa conduta começou a mudar quando Vânia, quase que por acaso, sentiu-se tocada com a emoção de uma paciente. Uma mãe puérpera que se pôs a chorar no meio da consulta. “Eu resolvi deixar. Eu vi, eu senti, me envolvi. Conversei de verdade com ela, dei opiniões. Foi o dia que me conectei. Vi nesse momento que falhei com todas as mulheres que deixei de ajudar por seguir um protocolo de distanciamento”.
Então ela teve a ideia de usar seu perfil de redes sociais, o SOS Pediatra, para promover um encontro entre mães. Para facilitar a organização do evento, criou um grupo de WhatsApp com mães de bebês que tinham nascido no mesmo mês. As mães começaram a conversar pelo aplicativo para combinar o encontro, que foi um sucesso e superou todas as expectativas de Vânia. Ao mesmo tempo, aquelas mulheres acharam um ótimo canal para trocar experiências e se apoiarem mutuamente. Mesmo depois do encontro, as mães decidiram manter o grupo virtual e iniciaram assim uma tradição que mudaria a atuação de Vânia com todas as suas pacientes.
“Eu não vivo a maternidade, tem coisas que eu não consigo suprir. Foi uma ferramenta muito importante para o meu trabalho. Tem muitas angústias que não são médicas, são pessoais de um determinado momento de vida que elas compartilham. Eu aprendo muito com a força delas”.
Depois da criação do terceiro grupo, Vânia percebeu que seu consultório estava pequeno demais. Ela queria trocar aquela sala por uma casa – um espaço onde mães, pais e crianças pudessem se encontrar, um lugar que, além das consultas, promovesse cursos e workshops abertos para toda a comunidade.
Com a concepção da ideia, ela contou com a ajuda de sua imensa rede de amigos para realizar seu sonho. Esse grupo colaborou com cada etapa do projeto, desde a escolha do imóvel, até a programação das atividades que seriam praticadas na clínica. Vânia conseguia, assim, reunir seus melhores amigos para se aventurarem ao seu lado.
“É um projeto que não é meu. Cada um joga uma semente. Tem psicólogo, tem médico, fonoaudiólogo, nutricionista… Aqui, médico e paciente formam uma parceria para gerar uma conclusão que guia o atendimento”.
Como numa gestação, essa preparação durou aproximadamente nove meses e, em outubro de 2016, nascia a Lumos (sim, o nome é uma referência direta ao feitiço que acende um ponto de luz para clarear o caminho tinha que ter alguma bruxaria envolvida).
E mesmo sem uma vassoura mágica, Vânia pretende alçar voos mais longos. Ela quer ver seu sonho continuar e crava: “Eu vou abrir a Lumos em outros lugares. Em Belém, eu vou com certeza. Porque não são todas as crianças que conseguem vir aqui nessa casa, então, o importante é formar pessoas que plantem essa ideia em outros lugares”.
Não dá para duvidar dela.
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Unidade Vila Madalena (VMD)
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